Mario Schenberg nasceu em Recife, filho de pais imigrantes europeus. Iniciou o curso universitário na antiga Escola de Engenharia de Recife, mas se transferiu para a Escola Politécnica de São Paulo em 1933. No ano seguinte foi fundada a Universidade de São Paulo, que trouxe ao país os primeiros professores estrangeiros para iniciar os cursos de ciências e humanidades da nova Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Essa deve ter sido uma época maravilhosa. A física do século XX já havia passado por enormes transformações, associadas à teoria da relatividade e à nova mecânica quântica, mas que ainda não tinham chegado ao país. Alguns alunos da Escola Politécnica se encantaram com as aulas de um físico excepcional, Gleb Wataghin, de origem italiana, e se transformaram nos fundadores da física moderna no Brasil. Mario Schenberg era o físico teórico desse grupo. A partir de 1936, quando publicou o seu primeiro trabalho científico numa revista italiana de muito prestígio, sobre problemas da "eletrodinâmica quântica", Schenberg manteve uma produção científica respeitadíssima no Brasil e no exterior, que há pouco tempo foi recuperada em dois alentados volumes publicados pela Editora da Universidade de São Paulo.
Estimulado pelo ambiente da universidade que se organizava, Schenberg fez longas viagens ao exterior. Ainda antes da Segunda Guerra, trabalhou em Roma, junto ao grupo de Enrico Fermi, um dos maiores físicos do século XX, mas também esteve na Suíça e na França. Essas viagens devem ter sido intelectualmente marcantes. Mais tarde ele mesmo relata que gostou muito da Itália, "onde me identifiquei com o povo e vi muita coisa sobre arte. Foi quando comecei a me interessar de novo pela arte. Em Paris, conheci Di Cavalcanti, que tinha um atelier junto com De Chirico. Foi muito interessante fazer essa viagem à Europa, antes da guerra. Paris antes da guerra era outra coisa. Foi um mundo que ainda pude conhecer e que desapareceu ...." Schenberg também viaja para os Estados Unidos, durante a Guerra, colaborando em dois trabalhos sobre a "evolução das estrelas", problemas importantes da área de astrofísica que ainda são muito lembrados. Num desses trabalhos, com George Gamow, aparece a proposta do "efeito Urca" para explicar a explosão estelar; as estrelas perdem muita energia, rapidamente, que é carregada pelos neutrinos postulados por Fermi, da mesma maneira como grandes fortunas trocam de mão, rapidamente, nas mesas de jogo do Cassino da Urca .... Em 1944, esse cientista que "pensava nas estrelas" substitui Monteiro Lobato como paraninfo da turma de formandos da Faculdade de Filosofia da USP. Faz então um discurso, reproduzido nessa biografia, que é um bom resumo das preocupações da época, no final da Guerra, com amplas perspectivas democráticas para o mundo e para o país. Essas preocupações democráticas, abaladas pela "guerra fria", vão ser uma constante nos artigos e pronunciamentos políticos de Mario Schenberg nos anos seguintes.
Um dos retratos mais fieis de Mario Schenberg foi traçado num poema do seu amigo Haroldo de Campos,
"... o olhar transfinito do mário ... nos ensina ... a ponderar melhor a indecifrada ... equação cósmica ....na estante de mário ... física e poe- sia coexistem ... como asas de um pássaro - espaço curvo - ... colhidas pela têmpera absoluta de volpi..."
Referências: